sábado, 26 de fevereiro de 2011

Mudanças na ocorrência de aranhas

Olá, muito tempo sem postar, mas há novidades em relação às novas coletas. O número de aranhas diminuiu sensivelmente da última coleta para a dessa semana. Até o número de aranhas jovens também está sendo menor. Num primeiro momento, posso imaginar dois fatores que podem estar influenciando na mudança de padrão:

1. Escala temporal pequena: como as coletas são feitas de pouco em pouco tempo o clima pode ser um fator importante influenciando a distribuição e ocorrência dos animais. O mês de fevereiro foi muito chuvoso, o que pode ter atrapalhado o estabelecimento dos bichos e, mesmo, a imigração.

2. Fenologia: a mudança de padrão se deu simplesmente pelas diferenças de história de vida dos bichos, ou seja, as espécies, nessa época de final de verão e início de outono estão, naturalmente, com suas populações pequenas, talvez até mesmo prenunciando uma mudança na composição da comunidade de aranhas. Algumas espécies podem ter somente um estágio reprodutivo anual (primavera), o que fez com que o número de indivíduos de algumas espécies, no verão, fosse grande. Algumas espécies podem ter até dois estágios reprodutivos anuais. Me dei conta de que a análise da variação da composição ao longo do tempo é um estudo que será muito legal de se fazer.

Lendo a postagem anterior, vi que já tinha percebido uma alteração na quantidade de bichos e um aumento na presença de fêmeas com sacos de ovos, o que indica que, realmente, os bichos estão reproduzindo nessa época e, provavelmente, as ootecas vão eclodir em março/abril. Claro que os sacos de ovos que eu tirei acabariam eclodindo caso eu os tivesse deixado e essas novas aranhas, então, recolonizariam a vegetação. De qualquer forma, isso é legal, pois mostra, provavelmente, que há uma dinâmica populacional que começou antes do verão com a produção de juvenis, que dispersaram e colonizaram as manchas vegetais e que, agora, estão diminuindo a abundância. Quando será o próximo ciclo de aumento da abundância? Provavelmente, no outono.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Novas coletas...

Oi,

Esta semana, como comentei anteriormente, está sendo de coletas. É a terceira vez. Deixa eu explicar essa parada melhor. O meu objetivo primeiro é verificar se a quantidade e a diversidade de hábitats influenciam na colonização das aranhas. O desenho e outras minúcias estão descritos nos posts anteriores (leia lá).

Dois dos processos que influenciam no estabelecimento de uma comunidade animal são a colonização e a extinção. A colonização é a chegada (imigração) e o estabelecimento de novas espécies e a extinção é a perda de espécies que já estavam na comunidade.

Supõem-se que as taxas de colonização sejam maiores se: (1) as manchas de hábitat forem maiores e (2) se as manchas de hábitat forem mais heterogêneas. Como trabalhar com aranhas é sempre complicado no sentido da identificação em campo (que é quase inviável), seria muito difícil trabalhar com as comunidades in loco ao longo do tempo. Dessa forma, escolhi trabalhar só com a taxa de colonização. Como fazer?

Tirei as aranhas que estavam nas minhas manchas de vegetação logo que montei o experimento. Dessa forma, o espaço estava disponível para a colonização. Após 23 dias, voltei lá e tirei novamente as aranhas e assim sucessivamente. Desse jeito, terei o número de espécies e suas identidades ao longo de tempos iguais: mais ou menos 23 dias (mais ou menos porque às vezes chove e não dá pra coletar exatamente naquele dia).

As taxas de colonização das populações serão medidas através de uma fórmula extraída de Extinction and colonization processes: parameter estimates from sporadic surveys (Clark e Rosenzweig, 1994). As taxas de extinção são totais: como eu tiro todas as aranhas da vegetação, todas são extintas!!!

Pretendo, no mínimo, fazer 10 coletas dessa forma. Até porque os autores do artigo sugerem que quanto mais coletas melhor...

Nessa última coleta, tenho pego menos aranhas... Por outro lado, muitas aranhas estavam com suas ootecas (ovos). Veja a figura abaixo:


Isso é muito legal, pois quer dizer que as manchas, apesar de pequenas, são capazes de proporcionar condições e recursos para que populações possam se desenvolver... A beleza de experimentos é que eles dão condições para que possamos analisar processos que, em estudos de campo, seriam muito complicados. Os processos demográficos são extremamente complicados de se medir em condições naturais. Aqui, parece que será possível... Tenho que me debruçar sobre isso para pensar na melhor maneira de medir isso...

Abaixo, um vídeo legal de uma aranha cursorial (Anyphaenidae?) fazendo sua teia. As aranhas cursoriais são aquelas que perambulam pela vegetação a procura de presas, diferentemente das aranhas de teia, que fazem uma teia e esperam as presas caírem nela. A aranha do vídeo está construindo seu refúgio. Ela fica na parte abaxial (inferior) da folha. A qualidade não ficou muito boa, mas acho que dá pra ter uma ideia. Veja aí:


Paz a todos.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Como definir hábitat?

Hábitat é uma palavra que perpassa toda Ecologia, mas, apesar da simplicidade inerente e aparente, na ciência biológica a simplicidade se perde na complexidade de classificações e medições. Diretamente, o hábitat é o lugar onde iríamos para encontrar determinada espécie. Se encontramos uma espécie na mata atlântica, quer dizer que o hábitat dela é lá? Bom, o termo mata atlântica enseja uma região geográfica enorme e, caso nossa espécie seja uma aranha, por exemplo, talvez essa região seja muito grande para ela. A distribuição da espécie tem a ver com as condições e recursos disponíveis no ecossistema. Uma espécie pode requerer maior quantidade de luminosidade, por exemplo. Dessa forma, ela será mais facilmente encontrada em áreas abertas, ou talvez em bordas de matos, ou em clareiras no meio dele. Bom, nosso papo simples já começou a complicar! Hehehe.

Quando eu comecei a bolar o meu experimento (quem não leu, veja nos posts abaixo o desenho experimental entre outros assuntos relacionados), fiquei enrolado quanto à maneira de "medir" o hábitat para uma aranha. A quantidade de hábitat é razoavelmente fácil de se determinar: se temos duas plantas iguais de um lado e apenas uma outra de outro lado, é lógico que a quantidade de hábitat disponível para que uma aranha possa utilizar é maior nas duas plantas juntas do que na outra sozinha.

Porém, como medir as diferenças de hábitat? Ou, melhor dizendo, a diversidade de hábitat? Como eu possuía quatro espécies de mudas de plantas lenhosas nativas, imaginava que teria quatro tipos de hábitat. Eu olhava para as plantas, via suas diferenças de forma (morfológicas) e pensava que elas eram diferentes. Nada mais enganador!

Aqui, entrou a parte da classificação e medição, que comentei acima.

Fui estudar morfologia vegetal! Voltei à escola. Estudei como o corpo das plantas poderia ser dividido e quais as características morfológicas que poderiam diferenciar duas espécies de plantas. Dessa pesquisa, selecionei as seguintes características:

1. Altura;
2. Número de ramos;
3. Comprimento dos ramos;
4. Comprimento dos entrenós;
5. Comprimento das folhas.

Imaginei, pela minha experiência, que essas medidas fáceis de tomar seriam representativas das estruturas vegetais com as quais uma aranha poderia se deparar e escolher para construir seu refúgio, sua teia... Além dessas medidas, adicionei a composição das folhas (simples/compostas) e a presença de espinhos.

Medi essas características em 10 mudas escolhidas ao acaso de 1000 outras mudas. Depois, fiz uma ordenação com esses dados. Bom, duas espécies que eu achava diferentes se mostraram iguais. Mas isso nem foi tão surpreendente, pois as duas são da mesma família: pitanga e jaboticaba. As outras duas espécies - tarumã e ipê - eram bem diferentes entre si e também das outras duas. Veja abaixo a ordenação:


Como meu objetivo é comparar as taxas de colonização por aranhas em manchas de vegetação com mais e menos diversidade de hábitats, naquele momento, eu teria que escolher entre uma das duas espécies semelhantes. Escolhi a pitanga e não foi aleatoriamente... Foi escolhida porque aparentemente as mudas estavam em melhores condições. A jaboticaba apresentava muitas folhas caindo e eu não queria que a estrutura da planta mudasse muito durante o experimento, pois isso poderia influenciar nos resultados.

Nesse ponto, eu tinha três espécies e resolvi que queria ter mais um tipo de hábitat. Como já havia construído várias mudas artificiais pensando em fazer outra abordagem para esse experimento, resolvi utilizar essas mudas. Refiz a análise com as mudas artificiais e:


Voilá! Tinha quatro hábitats diferentes. Para confirmar a separação gráfica fiz uma análise para determinar se realmente cada um das 10 mudas de cada planta era diferente das outras mudas e o resultado foi SIM.

Um conceito aparentemente tão simples como hábitat, teve uma longa história de estudo, classificação, medição e análise.

Mas, agora, eu tenho convicção de que os "hábitats" que eu montei para as aranhas são realmente diferentes... Será??? E se uma aranha nem estiver aí com essas diferenças? Será que, caso não haja diferenças nas taxas de colonização que estou medindo com as coletas, isso será por causa dessa diferença? Será que as aranhas não poderia estar "escolhendo" outras estruturas? Essa é a magia da ciência: You'll never know for sure!!!

Paz a todos.