terça-feira, 7 de março de 2017

INFORMAÇÃO E APRENDIZADO

O POWER POINT DEIXA OS ESTUDANTES ESTÚPIDOS E O PROFESSOR CHATO?

Você realmente acha que assistir uma aula com centenas de apresentações está deixando você mais inteligente?
Um artigo argumentou que as universidade deveriam banir o Power Point, pois deixaria os estudantes estúpidos e os professores chatos.
Eu concordo que essa ferramenta esteja supervalorizada. Entretanto, a maioria das universidades talvez ignorem o aviso. Quando medem o sucesso de um curso, as universidades, em geral, se preocupam com a satisfação do estudante, ao invés de focalizar em quanto o estudante aprende.

O QUE HÁ DE ERRADO NO POWER POINT?

Confiar demais nas apresentações tem contribuído para a crença absurda de que pedir que os estudantes leiam livros, assistam as aulas, tomem notas e façam dever de casa é incoerente.
Componentes curriculares baseados somente em apresentações propagam o mito de que estudantes podem desenvolver habilidades e conhecimento sem ler vários livros e artigos, e sem resolver muitos problemas.
Uma revisão sobre o uso e o processo de ensino com Power Point mostrou que, enquanto estudantes gostam do Power Point mais do que as antigas transparências (que são praticamente a mesma coisa!), o Power Point não aumenta o aprendizado ou habilidades. Gostar de alguma coisa não a torna efetiva e não há nada que sugira que apresentações/transparências são uma ferramenta de aprendizagem efetiva.
Uma pesquisa comparando o ensino baseado em apresentações contra outros métodos, tais como o aprendizado baseado em problema – onde estudantes desenvolvem conhecimentos e habilidades pelo confronto com problemas realistas e desafiadores – mostra que esses outros métodos são mais efetivos em geral.

Há três razões pelas quais o Power Point é tóxico para a educação:
1. Apresentações desencorajam o pensamento elaborado. Apresentações encorajam instrutores a apresentar tópicos complexos usando marcadores, chamadas, figuras abstratas e tabelas superssimplificadas com evidência mínima. Desencorajam uma análise profunda de situações complexas e ambíguas, pois é quase impossível apresentar uma situação dessas em uma apresentação. Isso dá aos estudantes a ilusão de clareza e entendimento.

2. Já estou convencido que a maior parte dos componentes baseados pesadamente em apresentações fazem os estudantes pensarem que o componente é um conjunto de apresentações. Bons professores que apresentam complexidade e ambiguidade realistas são criticados por serem pouco claros. Professores que evitam colocar pontos de tópicos resumidos em apresentações são criticados por não oferecer as devidas anotações. Esse último motivo não faz o mínimo sentido, pois é a inversão total de valores no processo de ensino-aprendizagem. Quem deve ter o compromisso de ler e fazer anotações é o estudante! Aristóteles disse que “o verdadeiro discípulo é aquele que supera o mestre.” Então, o professor se motiva com os questionamentos dos estudantes sobre o assunto, pois estimula seu intelecto. Só com o encontro intelectual o discípulo pode se igualar e superar o professor, criando um caminho evolutivo ascendente.

3. As apresentações desencorajam expectativas lógicas. Quando eu uso exclusivamente o Power Point, os estudantes esperam que as apresentações contenham todo detalhe necessário para projetos, testes e avaliações. Por que alguém iria perder tempo lendo um livro ou indo a uma aula quando pode conseguir aprovação ficando em casa de pijamas e lendo apresentações?

AVALIANDO AS COISAS ERRADAS

Se as apresentações são tão ruins, por que são tão populares?
Há universidades que medem a satisfação dos estudantes, mas não o aprendizado. Pelo fato das instituições focalizarem no que medem e dos estudantes gostarem de apresentações, elas permanecem, sem importar a efetividade educativa.
Hospitais medem a morbidade e a mortalidade. Corporações medem a receita e o lucro. Governos medem o desemprego e o PIB. Mesmo páginas de internet medem índices de leitura de cada artigo e autor. Mas universidades não medem o aprendizado.
Provas, resenhas e trabalhos em grupo medem ostensivamente o conhecimento ou habilidade. Aprendizado é a mudança no conhecimento e habilidades. Portanto, deve ser medido o tempo todo.
Quando somos chamados a medir o aprendizado, os resultados não são bonitos. Pesquisadores estadunidenses mostraram que um terço dos estudantes de graduação não melhoraram seu conhecimento ao longo de seus quatro anos de cursos.
Eles testaram estudantes no início, meio e final de seus cursos usando a ferramenta Collegiate Learning Assessment, que testa habilidades que qualquer curso deveria melhorar – argumentação analítica, pensamento crítico, solução de problemas e escrita.
Qualquer universidade pode empregar testes similares para medir o aprendizado dos estudantes. Isso facilitaria as avaliações rigorosas de diferentes métodos de ensino. Seríamos capazes de quantificar a relação entre o uso do Power Point e o aprendizado. Seríamos capazes de investigar dezenas de covariáveis do aprendizado e, eventualmente, estabelecer o que funciona e o que não funciona.
Infelizmente, muitos direcionadores chaves do aprendizado parecem reduzir a satisfação dos estudante e vice-versa. Enquanto continuarmos a medir a satisfação no lugar do aprendizado do estudante, continuaremos na espiral descendente de poucas expectativas, pouco trabalho árduo e pouco aprendizado.

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