O POWER POINT DEIXA OS ESTUDANTES ESTÚPIDOS E O PROFESSOR CHATO?
Você realmente acha que assistir uma aula com centenas de apresentações está deixando você mais inteligente?
Um artigo argumentou que as universidade deveriam banir o Power Point, pois deixaria os estudantes estúpidos e os professores chatos.
Um artigo argumentou que as universidade deveriam banir o Power Point, pois deixaria os estudantes estúpidos e os professores chatos.
Eu concordo que essa ferramenta esteja
supervalorizada. Entretanto, a maioria das universidades talvez ignorem o aviso.
Quando medem o sucesso de um curso, as universidades, em geral, se preocupam
com a satisfação do estudante, ao invés de focalizar em quanto o estudante aprende.
O QUE HÁ DE ERRADO NO POWER POINT?
Confiar demais nas apresentações tem
contribuído para a crença absurda de que pedir que os estudantes leiam livros,
assistam as aulas, tomem notas e façam dever de casa é incoerente.
Componentes curriculares baseados
somente em apresentações propagam o mito de que estudantes podem desenvolver
habilidades e conhecimento sem ler vários livros e artigos, e sem resolver muitos
problemas.
Uma revisão sobre o uso e o processo
de ensino com Power Point mostrou que, enquanto estudantes gostam do Power Point mais do que as antigas
transparências (que são praticamente a mesma coisa!), o Power Point não aumenta
o aprendizado ou habilidades. Gostar de alguma coisa não a torna efetiva e não
há nada que sugira que apresentações/transparências são uma ferramenta de
aprendizagem efetiva.
Uma pesquisa comparando o ensino
baseado em apresentações contra outros métodos, tais como o aprendizado baseado
em problema – onde estudantes desenvolvem conhecimentos e habilidades pelo
confronto com problemas realistas e desafiadores – mostra que esses outros
métodos são mais efetivos em geral.
Há três razões pelas quais o Power
Point é tóxico para a educação:
1. Apresentações desencorajam o pensamento elaborado. Apresentações encorajam instrutores a apresentar tópicos
complexos usando marcadores, chamadas, figuras abstratas e tabelas superssimplificadas
com evidência mínima. Desencorajam uma análise profunda de situações complexas
e ambíguas, pois é quase impossível apresentar uma situação dessas em uma
apresentação. Isso dá aos estudantes a ilusão de clareza e entendimento.
2. Já estou convencido que a maior
parte dos componentes baseados pesadamente em apresentações fazem os estudantes pensarem
que o componente é um conjunto de apresentações. Bons professores que
apresentam complexidade e ambiguidade realistas são criticados por serem pouco
claros. Professores que evitam colocar pontos de tópicos resumidos em
apresentações são criticados por não oferecer as devidas anotações. Esse último
motivo não faz o mínimo sentido, pois é a inversão total de valores no processo de
ensino-aprendizagem. Quem deve ter o compromisso de ler e fazer anotações é o
estudante! Aristóteles disse que “o verdadeiro discípulo é aquele que supera o
mestre.” Então, o professor se motiva com os questionamentos dos estudantes
sobre o assunto, pois estimula seu intelecto. Só com o encontro intelectual o
discípulo pode se igualar e superar o professor, criando um caminho evolutivo
ascendente.
3. As apresentações desencorajam
expectativas lógicas. Quando eu uso exclusivamente o Power Point, os estudantes
esperam que as apresentações contenham todo detalhe necessário para projetos,
testes e avaliações. Por que alguém iria perder tempo lendo um livro ou indo a
uma aula quando pode conseguir aprovação ficando em casa de pijamas e lendo
apresentações?
AVALIANDO AS COISAS ERRADAS
Se as
apresentações são tão ruins, por que são tão populares?
Há universidades que medem a satisfação dos estudantes, mas não o aprendizado. Pelo fato das
instituições focalizarem no que medem e dos estudantes gostarem de
apresentações, elas permanecem, sem importar a efetividade educativa.
Hospitais medem a
morbidade e a mortalidade. Corporações medem a receita e o lucro. Governos medem
o desemprego e o PIB. Mesmo páginas de internet medem índices de leitura de
cada artigo e autor. Mas universidades não medem o aprendizado.
Provas, resenhas
e trabalhos em grupo medem ostensivamente o conhecimento ou habilidade.
Aprendizado é a mudança no
conhecimento e habilidades. Portanto, deve ser medido o tempo todo.
Quando somos chamados
a medir o aprendizado, os resultados não são bonitos. Pesquisadores estadunidenses
mostraram que um terço dos estudantes de graduação não melhoraram seu
conhecimento ao longo de seus quatro anos de cursos.
Eles testaram
estudantes no início, meio e final de seus cursos usando a ferramenta Collegiate Learning Assessment, que
testa habilidades que qualquer curso deveria melhorar – argumentação analítica,
pensamento crítico, solução de problemas e escrita.
Qualquer
universidade pode empregar testes similares para medir o aprendizado dos
estudantes. Isso facilitaria as avaliações rigorosas de diferentes métodos de
ensino. Seríamos capazes de quantificar a relação entre o uso do Power Point e
o aprendizado. Seríamos capazes de investigar dezenas de covariáveis do
aprendizado e, eventualmente, estabelecer o que funciona e o que não funciona.
Infelizmente,
muitos direcionadores chaves do aprendizado parecem reduzir a satisfação dos
estudante e vice-versa. Enquanto continuarmos a medir a satisfação no lugar do
aprendizado do estudante, continuaremos na espiral descendente de poucas
expectativas, pouco trabalho árduo e pouco aprendizado.
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