quarta-feira, 27 de abril de 2011

Escassez de bichos

Pois é...

Pensei que esse outono traria um aumento na abundância e riqueza de aranhas, mas estão é diminuindo. A maioria dos bichos está juvenil, o que significa que não estão tendo tempo de maturar.

Além disso, tenho a impressão de que, no verão, havia dispersão de adultos também, já que, de qualquer forma, o tempo entre coletas sempre foi o mesmo, mas, no verão, os adultos estavam mais presentes.

Ainda faltam quatro coletas e estou pensando seriamente em aumentar o tempo entre elas. O maior problema é a incerteza de que a terra ainda estará disponível para acabar o experimento.

O Everton vai me passar a lista de espécies das quatro primeiras coletas e terei uma ideia de riqueza. De qualquer forma, já sei que a riqueza irá diminuir consideravelmente a partir da quinta coleta. Se começarem a aparecer muitos zeros, a coisa se complicará.

Só para ressaltar que o cálculo da taxa de colonização é feito a partir da soma das presenças das espécies em cada coleta, ou seja, 0 e 1 para cada espécie em cada coleta. Se não há adultos, a taxa de colonização fica mais próxima de zero, o que pode ser interessante se pensarmos em sucessão, mas que afeta o experimento da maneira que foi desenhado (normalidade, variâncias, etc.).

Apesar de que vou utilizar o Multiv, software que tem um algoritmo de aleatorização que dispensa os mesmos pressupostos dos testes paramétricos padrões.

Bom, tudo isso vai ser pensado só lá pro final do ano.

Agora, estou incorporando as sugestões da minha orientadora no artigo de revisão (que já comentei em postagem anterior, veja abaixo). Em maio e junho, vou escrever o outro artigo da tese que trata da diversidade de aranhas de teia em fragmentos florestais (o qual já iniciei as postagens com parte da história da paisagem aqui de Torres, veja abaixo).

Desde já, agradeço à minha amiga Nara Irigoyen, que vive há muito tempo nos EUA, por ter aceitado revisar o inglês do artigo de revisão.

Paz a todos.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Coletas # 6

Six samples... Four to go...


Semana de fazer a sexta coleta do experimento de colonização.

Poucos bichos, mas, ainda assim, apareceram adultos, principalmente fêmeas.

Aguardo, ansioso, a lista das coletas 1 a 4, que o Everton vai enviar em breve. Provavelmente, semana que vem, estarei postando os primeiros resultados preliminares! OBA!!!

Apesar de vários jovens, estou pensando em utilizá-los como uma variável resposta. Uma coisa é os bichos chegarem nas manchas (imigração), outra é fazerem a colonização (estabelecimento e desenvolvimento). Dessa forma, talvez, possa ser possível ter duas variáveis respostas: taxa de colonização (somente os adultos) e número de imigrantes (todos os bichos). Veremos, pensei nisso hoje... Ainda tem que ser elaborado.

Enquanto isso, vejam as fotos que tirei abaixo:

Refúgio do que julgo ser uma nova espécie. Folhas de pitangueira.

Ótima foto de uma espécie de aranha (topo) e suas crias. Em folhas de Tarumã.

Um bando de jovens heterópteras. Pode-se visualizar os ovos da onde eclodiram.

Uma lagarta cor-de-laranja. Olhe bem...

Um salticídeo no seu abrigo. Em duas folhas de pitangueira.

Um ortóptera em uma muda artificial.

Ótima foto de um teridídeo e sua exúvia. Em folha de pitangueira.

Bom, por hoje, é isso. Ou, como diria o pernalonga That's all folks.

Estou devendo a continuação do projeto de coletas nos fragmentos de Torres. Em seguida, farei a postagem.

Luz e paz a todos.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Conhecimento fragmentado do mundo fragmentado

Uma das características mais desejáveis da ciência é a capacidade de se fazer previsões sobre as trajetórias futuras dos fenômenos. É assim no caso das leis dos movimentos dos planetas, por exemplo. A existência de leis, nesse caso, pressupõe uma capacidade de previsão. A generalização dos processos e efeitos de um determinado fenômeno em qualquer parte do mundo físico leva à formulação de uma lei geral.

Na Ecologia, apesar dos esforços dos cientistas, parece haver apenas uma generalização bem estabelecida: a relação espécies-área. Esse padrão diz que "quanto maior a área física, maior o número de espécies que encontraremos." Veja bem, isso não é uma lei, mas uma generalização de uma padrão, o que quer dizer que sempre há uma probabilidade de não o encontrar. Imagine, mais ou menos, se o movimento da Terra fosse um padrão com possibilidades de desvios na trajetória, não uma lei física. Não se poderia precisar exatamente quando aconteceria um eclipse solar, por exemplo, somente as probabilidades associadas ao fenômeno baseadas nas variáveis que influenciariam o mesmo.

A busca por padrões gerais e abrangentes é uma coisa desejável na Ecologia, pois a sucessiva repetição de padrões gerais nos levaria a formulação de uma lei a respeito de algum fenômeno ecológico e isso seria bom para que pudéssemos prever alterações nos ecossistemas associadas com o impacto da expansão humana, por exemplo. Porém, padrões gerais para quaisquer fenômenos físicos envolvendo seres animados parecem ser muito difíceis de encontrar.

A minha revisão OVERVIEW OF ARTHROPOD COMMUNITY RESPONSES TO FOREST FRAGMENTATION (Visão sobre as respostas das comunidades de artrópodes à fragmentação florestal) (submetido) mostra que estamos, ainda, muito longe de podermos ao menos utilizar ferramentas quantitativas (e.g. meta-analysis - meta-análise) adequadas para procurar padrões gerais de resposta da maioria dos artrópodes.

Apenas 32 estudos foram selecionados em nível mundial, baseados em critérios específicos. Há 506 ecoregiões em áreas florestais no mundo e apenas 22 foram, de alguma forma, acessadas em estudos de fragmentação envolvendo artrópodes. Muito pouco para se quer pensar em generealizações!!! Veja, abaixo, uma tabela com as áreas totais dos biomas florestais mundiais, número de ecorregiões e o percentual de ecorregiões estudados por bioma.



Total area (ha)
%
Number ecoregions
Ecoregions studied
%
Boreal Forest
1512.68
25.50
28
2
7.14
Mediterranean Forest
322.04
5.43
39
3
7.69
Temperate Broadleaf and Mixed Forest
1283.10
21.63
84
8
9.52
Temperate Coniferous Forest
408.62
6.89
53
1
1.89
Tropical and Subtropical Dry Broadleaf Forest
379.63
6.40
55
3
5.45
Tropical and Subtropical Moist Broadleaf Forest
1954.56
32.95
230
4
1.74
TOTAL
5931.56

506
22
4.15











Chamo a atenção para o percentual de 1,74% das ecorregiões estudadas nos trópicos, que é o bioma, atualmente, onde se encontram as maiores perdas de biodiversidade, pois estão em áreas de franca expansão sócio-econômica.

Além disso, dos 32 estudos, a maioria trata de insetos e, dentre esses, outro tanto de besouros de solo. A copa das florestas está praticamente intocada, bem como os sub-bosques.



Vejam, acima, um diagrama hierárquico do número de vezes que os diferentes táxons de artrópodes foram estudados.

Apesar de ser o grupo com mais espécies entre os insetos, os besouros são apenas um dos maiores grupos. Por exemplo, os heterópteras, que compreendem as cigarras, fede-fedes, etc. são muito pouco estudados, apesar de possuírem muitas espécies, inclusive de importância medicinal, veja-se o caso do barbeiro.

Um dos fatores que pode ter influenciado a escolha pelos besouros de solo é a facilidade de coleta, aliada à fácil separação em grupos funcionais. Grupos funcionais são interessantes de se estudar, pois mostram como os organismos exploram os recursos do ambiente. Várias espécies diferentes podem ser agrupadas em um mesmo grupo funcional.

Porém, é muito importante que se façam estudos com outros grupos de artrópodes para se ampliar o conhecimento sobre os impactos da fragmentação florestal sobre esses animais, uma vez que eles englobam uma enorme biodiversidade e possuem várias funções nos ecossistemas florestais, a maioria delas desconhecida.

Outra característica importante dos parcos estudos sobre fragmentação florestal em artrópodes diz respeito às matrizes estudadas. A matriz de uma paisagem, tecnicamente falando, é o tipo de cobertura que mais aparece na paisagem. Porém, com uma licença científica que é muito praticada, chama-se matriz a tudo aquilo que, em se tratando de fragmentos de florestas, não é fragmento de floresta! A agricultura é o tipo de cobertura da matriz que mais aparece nos estudos, mas não há uma caracterização sistemática da estrutura das matrizes na maior parte dos estudos. Ou seja, a área, o perímetro, a zona de contato entre os fragmentos de floresta e outros tipos de cobertura, etc. são variáveis inacessíveis nos artigos estudados, o que inviabiliza uma análise mais profunda de como essas características, resultantes dos impactos humanos, influenciam na biodiversidade dos grupos de artrópodes.

Tudo isso quer dizer que estamos ainda engatinhando no conhecimento a respeito da fragmentação florestal e seu impacto nos artrópodes. As moto-serras são muito mais rápidas do que a ciência.

Além disso, a maioria dos estudos é pontual. Isso quer dizer que apenas uma região foi estudada em um determinado tempo (geralmente um ano, ou até menos) sem comparações com outras regiões do mesmo bioma/ecorregião que estejam passando por outros níveis de fragmentação (veja, porém, http://pdbff.inpa.gov.br/). Apesar disso, esses estudos também são importantes.

O Brasil passa por uma extraordinária oportunidade, pois é um dos países com maior biodiversidade intocada em áreas florestais, mesmo na Mata Atlântica, tanto desmatada. As políticas de expansão e ocupação do solo devem levar em consideração os estudos científicos realizados, sob pena de reproduzirmos o padrão europeu ou norte-americano: devastação e remediação. Temos condições de inverter essa lógica, passando a explorar o meio-ambiente a partir da tomada de decisão baseada em resultados científicos.

O Brasil pode ser um novo paradigma nesse campo, mas, para isso, devemos pensar qual modelo de desenvolvimento queremos. O novo Código Florestal está aí. Nenhuma associação, clube, sociedade, etc. científica, ao que me consta, foi ouvida sobre as alterações.

Estamos deixando passar uma ótima oportunidade...

Luz e paz a todos.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O cenário inicial de Torres - descrição história

Saudações a todos!

Continuo, nessa postagem, a descrição da região de Torres do livro Torres Origens.

"Na parte posterior das dunas, estendiam-se pantanais em alinhamento quase contínuo desde as margens do Mampituba até a encosta da Itapeva. O primeiro deles vinha desde a atual ponte pênsil até a extremidade norte da lagoa do Violão com desenvolvimento ao longo da margem do Mampituba. O segundo contornava a lagoa do Violão e se prolongava até a Itapeva. O atual Parque da Guarita ficava quase isolado, rodeado de pantanais que, só nas primeiras décadas do século passado, foram drenados.

(...) Os banhados eram cobertos com vegetação própria (tiriricas, tabúas, sedinhas, juncos, ciperáceas) e capões.

Finalmente, a paisagem local era dominada pela Mata Atlântica, nas planícies e encostas a oeste dos banhados. Formava uma massa compacta de árvores e arbustos tropicais - figueiras, guajuviras, caneleiras, cedros, palmeiras, jerivás - que fechava a periferia de Torres e que se estendia, com poucas clareiras de campo, até serra acima. Quando podia, a mata avançava para o lado do mar, cortava pântanos e subia ladeira interna das dunas, fixando-as."


A foto acima mostra um exemplo atual da narrativa do livro. A foto foi tirada no sentido Leste-Oeste. Ao fundo, vê-se a Serra Geral, em seguida, os pequenos morros (~90 m o mais alto) basálticos. No primeiro plano, os remanescentes de matos e o campo (o qual, nesse caso está no lugar do mato). A foto foi tirada em um dos primeiros pequenos morros basálticos após a área de banhados e da área arenosa que se seguem. Na parte direita pode-se ver a obra da BR (foto tirada em 2009 pelo autor).

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A planície costeira do sul do Brasil - descrição histórica

Saudações a todos.

Estou iniciando as postagens referentes à minha pesquisa de campo inicialmente denominada "Aranhas de teia em remanescentes de Floresta Atlântica no sul do Brasil". Sem um planejamento rigoroso, já que a ideia, aqui, é uma coisa mais descontraída, vou começar com uma descrição da planície costeira do sul do Brasil citada no livro "Torres Origens" de Ruy Ruben Ruschel.

Penso ser pertinente essa descrição uma vez que os remanescentes de mato nos quais coletei são ou remanescentes, ou matos secundários em variados níveis de desenvolvimento da vegetação. Para uma classificação dos tipos de florestas baseada em sucessão ecológica, clique aqui http://www.apremavi.org.br/cartilha-planejando/a-floresta-primaria-e-as-florestas-secundarias/

"A PLANÍCIE COSTEIA

De leste para oeste, pode distinguir-se cinco bastidores sucessivos, a saber:

A1) A linha de praia, umedecida pelas ondas, estreita de apenas 10 a 50 metros ao tempo dos nativos, é fechada primitivamente por um cordão quase contínuo de dunas de areias soltas, movidas pelos ventos nordeste e sul.
A2) Logo atrás das dunas espichava-se, desde Araranguá até Tramandaí, um cordão paludoso, onde se acumulava a água da chuva. São os conhecidos esteirais ou lagoinhas, outrora separando o mar e o campo. Agora estão mais secos, aos poucos preenchidos por estivas e aterros. De trecho em trecho, os excessos de água rompiam e os cômoros marginais extravasavam, formando arroios a cortar a praia.
A3) A oeste dos esteirais e lagoinhas prevaleciam os campos secos, cobertos de relva natural e entremeados com vistosos capões. Dunas de areias também aí aparecem, às vezes consolidadas pelo mato.

(...) Essas três faixas formam a longa restinga apertada entre as lagoas e o mar de 2 a 5 km de largura (...).

(...)A4) Detrás da restinga e dos campos segue o grande rosário das lagoas costeiras.

(...) A5) O resto da planície é constituída das margens internas das lagoas, às vezes bem estreitas, outras em comunicação com os valores dos rios que nelas deságuam. Aí, a areia litorânea é enriquecida ou substituída por solos mais férteis, oriundos da decomposição das rochas basálticas e dos morros. Hoje, há pastagens, antigamente, havia principalmente matos (hoje lavouras).

É exatamente nesse última faixa que fiz minhas coletas principalmente em pequenos morros de formação basáltica incrustados na planície.

Até o próximo...

Luz a todos.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Primeira produção

Saudações a todos!

Gostaria de compartilhar a alegria que senti, hoje, por haver terminado o primeiro manuscrito do meu doutorado intitulado "Overview of arthropod responses to forest fragmentation". Fico no aguardo das considerações da minha orientadora para enviar o mesmo para um periódico.

Gostaria de externalizar meus agradecimentos ao Dr. Leandro Duarte (UFRGS), que, a partir da apresentação da minha revisão no seminário do ano passado, incentivou a publicação do material.

Por outro lado, gostaria de frisar que foi um trabalho cansativo e maçante. Fazer revisão tão minuciosa da literatura e montar os dados foi um martírio para mim. Hehehe. Realmente, espero que o fruto tenha sido bom, apesar do sofrimento. Mas isso quem decide são os "companheiros" cientistas e quem está no meio sabe como isso "funciona".

Agora, partirei para assuntos que julgo bem mais agradáveis e o primeiro é a análise dos resultados do meu projeto de campo, o qual descreverei nas próximas postagens.

Luz a todos.